Unir o útil ao agradável. Esta é a fórmula que muitas mulheres que vivem na Comunidade Unida, em Bayeux, nas margens da Mata do Xem Xem, estão descobrindo na mágica que transforma óleo de cozinha usado em sabão. E o que parece coisa de alquimista está se transformando em uma forma barata de garantir a higiene das famílias e reduzir consideravelmente a poluição provocada pelo lançamento do óleo no meio ambiente. De quebra, elas ainda vêem diante de si uma oportunidade de negócio, que pode driblar um outro problema crônico entre os moradores, o desemprego.
Tudo começou com a intervenção dos Juristas Populares de Bayeux na comunidade, um efeito do trabalho que já vem sendo realizado de preservação da Mata. Por não contar com nenhum tipo de infra-estrutura básica e não conhecerem o mínimo das técnicas propostas pela educação ambiental, os moradores acabaram se tornando os principais agressores da reserva ambiental, já que nela jogam muito lixo e dela tiram muita lenha de forma irregular.
A Comunidade Unida é formada por 60 famílias provenientes de assentamentos que viram naquela localidade a esperança de uma vida melhor. O maior problema que eles/as enfrentam é a falta de saneamento básico, inviabilizado por conta dos dutos de gás que passam por baixo das casas. E como não há coleta de lixo na região, a mata do Xem-Xem serve, atualmente, de lixão para os moradores.
Ao observar a imensa carência da comunidade, os Juristas perceberam que poderiam levar um pouco de seus conhecimentos para os moradores e, a partir daí, nasceu a ideia de uma oficina de sabão ecológico para aproveitar os restos de óleo que saiam das cozinhas improvisadas direto para o solo. Os resultados já podem ser vistos na auto estima e motivação de quem mora na Comunidade Unida.
Um levantamento promovido pela Rede e realizado por uma Jurista e uma moradora dão conta de uma parte dos problemas enfrentados na comunidade. Dos 191 moradores, apenas 50 estão trabalhando, a maioria em sub empregos sem carteira assinada. Dos 89 jovens, adolescentes e crianças que moram no local, apenas 50 estão estudando. Apenas um morador chegou ao ensino superior – os demais que estudam sequer completaram o ensino fundamental.
A equipe da Fundação fez uma visita in loco para ver de perto os resultados deste trabalho da Rede. Às três horas da tarde, com o sol a pino, Dona Mirlene Candoia exibe orgulhosa o tabuleiro com sabão a base de óleo que ela mesma fez durante a oficina realizada uma semana antes pela Rede. “A senhora pode colocar a cor que quiser e o cheiro também, se a pessoa não souber pode até comer achando que é doce de leite”, afirma sorridente dona Mirlene, satisfeita com o resultado do seu trabalho.